Em vários países, a alergia alimentar é considerada atualmente um importante problema de saúde pública, afetando 3 a 6% das crianças nos países desenvolvidos. Alergia alimentar tem uma morbidade significante, mas fatalidades são raras.
Depois do leite de vaca, a alergia ao ovo de galinha é a segunda causa de alergia alimentar mais comum em lactentes e crianças pequenas, com uma prevalência estimada de 0,5 a 2%. A alergia ao ovo é definida como uma reação adversa de natureza imunológica às proteínas do ovo, e inclui alergia mediada pela imunoglobulina E (IgE), assim como reações mistas mediadas por IgE e células.
Cinco proteínas principais do ovo de galinha foram identificadas: Gal d 1-5. A maioria dessas proteínas é encontrada no ovo branco. A alergenicidade dessas proteínas depende principalmente (mas não exclusivamente) de sua resistência ao calor e às enzimas digestivas, refletindo na sua capacidade de estimular a resposta imune.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas são variáveis. Minutos a horas após a ingestão do alimento, o paciente pode apresentar urticárias (placas no corpo associadas à coceira), angioedema (inchaço em pálpebras, lábios, mãos), dor abdominal, vômitos, diarreia, falta de ar, chiado no peito e até anafilaxia (reação grave).
Reações fatais são raras, mas já foram relatadas. As reações são imprevisíveis e variáveis conforme os episódios. Ingestão do ovo cru ou mal cozido pode levar a reações mais graves quando comparadas a reações após a ingestão do ovo bem cozido.
A alergia ao ovo de galinha tem sido apontada como desencadeante da dermatite atópica (especialmente em lactentes e crianças pequenas) e esofagite eosinofílica alérgica. A combinação de alergia ao ovo e dermatite atópica é um fator de risco para asma. Poucos casos de enteropatia estão relacionados ao ovo.
Adultos também podem ser acometidos. Foram relatados casos de rinite/asma ocupacional em padeiros e funcionários de fábricas que trabalham com processamento do ovo.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na história detalhada, exame físico, teste cutâneo de leitura imediata (Prick test), teste de contato para alimentos, exames de sangue e teste de provocação oral, quando necessários.
O diagnóstico diferencial é feito com alergia a outros alimentos que contêm múltiplos ingredientes, contaminação de ovo mal cozido por toxinas que podem levar a quadro de diarreia e vômitos, entre outros.
Tratamento
O tratamento é baseado em dieta isenta de ovo, com educação dos pacientes e familiares, orientações sobre o manejo das reações em casos de exposição acidental e acompanhamento clínico regular para monitorizar a evolução da alergia em crianças.
A alergia ao ovo de galinha é persistente. Aos 3 anos, 50% das crianças apresentam tolerância e aos 5 anos, 66%.
Algumas vacinas contêm proteínas do ovo. A vacina MMR (sarampo, rubéola e caxumba) não está contraindicada aos pacientes alérgicos ao ovo. A vacina contra Influenza e Febre Amarela deve ser avaliada pelo médico assistente conforme cada caso.
Bibliografia:
Jean-Christoph Caubet, Julie Wang. Current understanding of egg allergy Pediatric Clin North Am. 2011 April 1; 58(2): 427–443
González-macedo et al. Validation of recipes for double-blind placebo-controlled challenges with milk, egg white and hazelnut. JACI 2016 May 24.